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Opinião

Não fomos criadas para sermos mal tratadas

Hoje, vamos falar pelas mulheres.

Não fomos criadas para sermos mal tratadas

Hoje, vamos falar pelas mulheres. Não fomos criadas para sermos mal tratadas, sofrermos violência, ganharmos um salário mais baixo ou para enfrentarmos sozinhas os inúmeros desafios que a sociedade nos impõe diariamente. Nós não fomos criadas para sofrermos na mão dos nossos parceiros. Para sermos mortas por eles, na pior das hipóteses.

O sofrimento feminino jamais deve ser romantizado, como uma superação, uma história que ficou para trás. Ele precisa sim ser combatido, por meio da criação de seres humanos mais empáticos, mais propensos ao amor, ao auxílio do seu próximo. Não precisa ser Dia da Mulher ou feminista para defender uma sociedade com mais igualdade para a mulher, basta ter senso de cidadania e querer mudar uma realidade visível, palpável.

Se todos tivessem essa consciência, não precisaríamos nos mobilizar para lutar por direitos que são básicos. Saber que há meninas que sofrem nas mãos de seus próprios familiares, que deveriam ser os primeiros a defendê-las, causa um mal-estar, uma sensação de impotência extrema.

Dados do último levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostrou que em 2021 houve registro de 1.319 casos de feminicídio no país, o que leva à triste estatística de uma mulher morta a cada sete horas, algo sério e que merece a atenção. Embora a taxa apresente recuo se comparado aos anos anteriores, quando falamos de mortes, é preciso considerar que eram 1.319 filhas, pessoas que foram amadas e que fazem muita falta para seus familiares, seus amigos, suas comunidades.

Ainda com dados deste Fórum, em 2021 foram registrados 56.098 boletins de ocorrência com relatos de estupro e abuso sexual, inclusive de vulneráveis, apenas no gênero feminino. Isso leva a conta de uma mulher ou menina sendo estuprada a cada dez minutos no país, verificando um crescimento entre 2020 e 2021, comparado a 2018 e 2019, de aproximadamente 3,8% no número de casos. Isso são casos relatados, mas imagina os casos “invisíveis”, que não são denunciados por medo ou vergonha. Isso nos faz pensar se estamos vivendo em uma sociedade segura para nós, mulheres, pois não é só o andar pela rua, de maneira livre, que conta, mas sobre quantas têm medo de chegar em casa hoje.

Ainda que mais negativo que possa ser, jamais teremos uma sociedade perfeita, onde todos serão livres do preconceito, da violência e da barbárie mesmo, que estamos sujeitos neste mundo. Um dos maiores líderes do movimento negro nos Estados Unidos e uma das maiores personalidades do mundo, Martin Luther King, disse uma vez que aprendemos a “voar como pássaros, nadar como peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos”. A luta pela igualdade começa ao olharmos a pessoa que está diante de nós e termos consideração e respeito por sua história. Sem este pensamento, não há apreço, simpatia e gentileza com ninguém.

Respeitar as diferenças é como ter uma “sala vazia”. Sem interferências de cores, obras, outras pessoas na hora de conhecer alguém. Você e aquela pessoa, a sua história e a história dela, onde uma aprende a conviver com a outra, respeitando seu espaço e sua privacidade. Quando há prevalência de poder, superioridade, quando a pessoa precisa se provar constantemente sobre algo, outras ao redor irão sofrer. Muitas vezes, inocentes pagam pelo desequilíbrio e ignorância. Mas nós não fomos criadas para sermos mal tratadas.