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Medalhas de Ouro

O esporte deu mais vida à Samantha Frizzas, que comemora duas medalhas de ouro nos
Jogos Escolares do Paraná na categoria para atletas com deficiência. “O perfeito é aquele que amamos”, declara a m&atil

Medalhas de Ouro

26/08/2016

Por Danielli Artigas de Oliveira

Duas medalhas de ouro na categoria de atletas com deficiência, nos 100 metros rasos e salto em distância. Esse foi o resultado da campo-larguense Samantha Frizzas (26) na fase final da 63ª edição dos Jogos Escolares do Paraná (JEPs), realizada no último sábado (20) em Arapongas, no Norte do Paraná. As medalhas foram muito comemoradas, mas o benefício que o esporte tem feito para ela é algo ainda maior, imensurável.

Ela, que é filha de Cléo e Samuel, se emociona e vibra com o que tem conquistado. A mãe conta que ela mudou muito com o esporte, está mais disposta, mais interessada em tudo. “Vemos a diferença, deu

mais vida pra ela, está mais dinâmica. Como mãe, é tão bom saber e ver esta diferença”, declara. Cléo lamenta que os deficientes físicos sempre ficam excluídos e diz que vê-la envolvida com o esporte, interagindo com alunos que não têm deficiência, foi a melhor experiência que teve na vida. “Achei interessante fazer junto com os outros alunos. Todas as crianças se sentindo parte do todo. Assim as pessoas acostumam a ver como algo normal, que fazem parte da sociedade. O normal é ser diferente.”
Samantha começou a praticar esporte no ano passado quanto entrou no Cemae Professora Lindamir Ribeiro, onde frequenta três vezes por semana e faz aulas de natação, equoterapia, golf e atletismo. Foi então que iniciou no Paradesporto e passou a competir no atletismo.

“Ela adora, diz que não quer sair nunca mais dessa escola. Fez fisioterapia a vida inteira e agora com esporte não precisa mais da fisioterapia. Até 2014 nunca tinha visto minha filha correr, e vi isso numa festa da escola”, conta, lembrando que Samantha também ganhou duas medalhas no início do ano na fase dos Jogos Escolares em São José dos Pinhais

A fase final da 63ª edição dos Jogos Escolares do Paraná (JEPs) foi realizada no último sábado (20) em Arapongas, no Norte do Paraná, com participação de quase 6.400 alunos de 705 instituições de ensino do Estado. Foram jogos em 18 modalidades, uma realização do Governo do Estado, por meio das Secretarias da Educação e do Esporte e do Turismo. Os vencedores na categoria ACD vão disputar as Paralimpíadas Escolares, organizadas pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), que acontecem entre os dias 21 e 26 de novembro, em São Paulo.

Especiais

“Cada dia entendo mais porque o chamamos de especiais. Especiais porque vibram quando o colega consegue passar a linha de chegada, não importando se foi o primeiro ou o último; especiais porque quando um vai ao banheiro não esquece de perguntar para aquele que não sabe ir sozinho, se quer ir também; especiais porque mesmo com a mãozinha tortinha, ajuda o amigo a pegar o suco na fila do almoço; especiais porque levantam de madrugada para sair do quarto do alojamento acompanhar o amigo ao banheiro; especial porque sem motivo algum, dá um abraço no amigo, sem esperar nada em troca; especial porque olha ao lado e não vê o amigo e avisa a professora, preocupado com seu bem-estar; especial porque se diverte dançando com os seus, sem se preocupar se está bem vestido ou no ritmo certo; especial porque ficam ao redor das professoras dias seguidos, obedecendo às regras estipuladas, sem reclamar; especiais porque fazem festa quando o motorista atende ao pedido de apagar a luz do ônibus, é uma alegria imensa; especiais porque se preocupam com o colega que não quer levantar cedo para competição; especiais porque a linha de chegada é o amor. Eu é que sou especial por ter o privilégio de fazer parte disso tudo”, declara Cléo.
Samantha

Cléo conta a história da filha, que foi concebida mesmo com laqueadura. Aos cinco meses de gravidez veio a notícia de que ela tinha hidrocefalia e que muitas complicações poderiam vir a surgir. Na época já era mãe de Fernanda (07), Paula (03) e Camila (01). Cléo conta que no dia 20 de dezembro de 1989, “na hora do parto, foi difícil tirá-la, pois a hidrocefalia era bem adiantada, eu só ouvia os médicos gritarem ‘abra mais Antoninho, abra mais, não quer sair’, entrei em desespero, pois meu corpo levantava da maca e quando ela nasceu, não escutei seu choro. Foi uma correria de médicos e eu pedia pra ver ela, pois temia que seria a última vez. Em seguida apaguei e só fui conhecê-la três dias depois, quando tive alta e fui até o Hospital Nossa Senhora das Graças, onde ela foi operada”.

Depois de dez dias na UTI Samantha foi levada pra casa junto com um travesseio que parecia uma “rosquinha”, para mudar ela de posição a cada duas horas. “Alguns amigos que vinham conhecer nossa filha, não conseguiam conter as lágrimas, pois havia drenado toda a água, mas os ossos da cabeça não tinham se consolidado. A cabeça era grande num corpinho prematuro. Com o passar dos meses foi engordando e se tornando um bebê como os outros. Aos 40 dias, iniciei a maratona de tratamentos: estimulação precoce; estimulação visual e fisioterapia”.

Quando Samantha estava com oito meses de vida teve a primeira convulsão. “A partir daí, eu dormia de mãos dadas com ela (a convulsão iniciava na mãozinha), nossa vida era em função das crianças, principalmente dela. Tinha várias convulsões no dia, e era preciso ir até o hospital para tomar remédio na veia. Isso foi até os três anos de idade, sempre fazendo novas tentativas com remédios diferentes”, detalha Cléo.

O trabalhado realizado pela Erce e pela Escola Especial Bom Jesus da Aldeia foi muito importante para o desenvolvimento da Samantha. Quanto ao preconceito, Cléo diz: “diminuiu ou é velado, mas hoje não me incomoda. Sinto pena das pessoas que não se dão a chance de crescer ao entender que o perfeito é aquele que amamos e mais perfeito seria se amássemos a todos. Nada na vida é por acaso, acredito que esse anjo, que atende pelo nome de Samantha, veio com a missão de fazer de nós pessoas melhores, não apenas pessoas da família, mas a todos que convivem com ela. Isso se fortalece a cada palavra de carinho de esperança que ela costuma falar para quem está triste “você não está sozinho”; jamais diz uma palavra para agredir ou que vá deixar alguém triste, adora os animais. É um ser iluminado”.