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Automedicação pode não surtir efeito e intoxicar

A automedicação é algo muito comum, mas tomar remédio sem orientação médica pode trazer diversas consequências ao corpo e, principalmente, pode esconder sintomas de doenças graves

Automedicação pode não surtir efeito e intoxicar

Às vezes quando bate aquela dorzinha de cabeça, ou uma sensação de cansaço e dores musculares, quase imediatamente aquele que sente a dor procura um remédio que passe esse mal-estar. A automedicação é algo muito comum, mas tomar remédio sem orientação médica pode trazer diversas consequências ao corpo e, principalmente, pode esconder sintomas de doenças graves.

O médico clínico geral Jaime Kuzuo explica que antigamente não existia uma lei que prezasse pela venda de remédios antibióticos controlados, o que acabava desenvolvendo muita resistência bacteriana na população por conta do uso inadequado do medicamento, tanto nas doses, como no espaçamento de horários e também na fórmula adequada para exterminar aquela doença.

A portaria da Anvisa que regulariza a venda de medicamentos controlados é a de nº 344, de 12 de maio de 1998, a qual possui a listagem de todos os nomes de composições separados em listas de Substâncias Psicotrópicas, Substâncias Sujeitas a Controle Especial (Sujeitas a Receita de Controle Especial em duas vias), Substâncias de Uso Proscrito no Brasil, por exemplo. São 14 listas no total, com nomes de substâncias que compõem os medicamentos vendidos no Brasil.

“A restrição do acesso à esses medicamentos acabou diminuindo a incidência de resistência na população, mas ainda existem alguns problemas. Outros medicamentos como anti- inflamatórios e antitérmicos, poucas pessoas sabem, mas eles também podem apresentar efeitos colaterais. Quando esses efeitos aparecem, podem atingir grandes proporções dos órgãos, causando por exemplo dores e problemas no estômago e também algumas doenças nos rins. O paracetamol, um remédio bem comum, que quase todo mundo tem em casa, por exemplo, pode causar problemas hepáticos também. Se a pessoa já tem uma doença hepática pré-estabelecida isso pode agravar”, explica o médico.

Se a pessoa que estiver doente for uma criança e o medicamento for ministrado sem orientação médica, o Dr. Jaime explica que há duas possibilidades: a primeira é a dose ser muito alta e o efeito será tóxico para a criança. Dose de medicamentos destinados para o público infantil são calculados pelos pediatras a partir do peso, se dado a mais pode agravar a situação da criança. Outra possibilidade é o remédio ser em dosagem abaixo do que seria recomendado pelo médico, e implicaria na inexistência de um efeito satisfatório.

“Existem doenças que se não tratadas da forma correta, com os devidos cuidados e medicação em horário correto, podem evoluir para algo mais grave ou causar até a morte. Porém, existem também algumas doenças que nós chamamos de autolimitada, ela ‘passa sozinha’, como é o caso de um resfriado em pessoas com boa saúde, quando o paciente acaba se automedicando para não sentir o mal estar. Isso pode ser um problema, pois só quem pode definir se aquela doença é autolimitada é o médico, com a anamnese, que é entrevista que fazemos com o paciente sobre os seus sintomas e com base no exame que realizamos durante a consulta”, adverte.

A orientação do médico é para que, mesmo que o sintoma pareça menor, ou seja muito comum, sempre procurar um médico. “Dor de cabeça, por exemplo, existem mais de 10 tipos, e ela pode ser sintoma de uma doença séria. Dor de cabeça é sintoma de meningite, que acompanha com vômito. Se for dado um remédio em casa que pare a dor e o vômito, pode levar a consequências sérias, até a morte. Em idosos, o sangramento intracraniano também tem como sintoma uma forte dor de cabeça. É algo que só pode ser diagnosticado em consultório, hospitais e até exames clínicos”, alerta.

Remédio em família

Outra prática comum é uma pessoa da família ficar doente primeiro, ir até o médico e buscar tratamento. Se a doença for contagiosa e passar para os demais, é dividido o remédio que foi receitado. “A primeira observação quanto a isso é que quem fez a consulta pode ficar sem remédio, principalmente se ele for de receita controlada. Existe um prazo mínimo de uso do medicamento, se não é respeitado esse prazo, todos os que fazem o ‘uso coletivo’ do remédio podem apresentar piora”, alerta.

Mesmo quando já terminou o tratamento e outra pessoa ficou doente, com sintomas próximos, não pode repassar o medicamento. Segundo o médico, existe um tempo de validade da composição do remédio e ela deve ser respeitada. Além disso, nem sempre o médico receita o mesmo medicamento, com a mesma dose e no mesmo espaço de tempo. A consulta deve ser individualizada para evitar justamente ministrar o medicamento de forma incorreta.

Fora da validade é fora de uso

“Alguns medicamentos têm validade mais prolongada, outros valem por apenas alguns dias. Tudo depende do que está escrito no rótulo. O medicamento vencido pode não funcionar e dependendo da composição ele pode começar a fazer outras reações químicas, que não são comuns em medicamentos, e prejudicar a saúde”, diz o Dr. Jaime.

A orientação também é válida para medicamentos de uso tópico, como pomadas e sprays, uma vez que elas também são absorvidas pelo corpo.

Dr. Internet

Em uma geração cada vez mais conectada com a internet, é normal que quem fica doente jogue seus sintomas em um site de buscas e veja as doenças que são mais parecidas com o que está sentindo. Isso pode ser ruim em alguns casos, como na automedicação, mas pode ser positivo ao se preparar para ir até um consultório médico. “Ninguém sabe melhor do que você mesmo o que está sentindo. É válido fazer uma busca e trazer na avaliação médica o que poderia ser, o médico irá então ver se existe a possibilidade e receitar o tratamento mais eficaz”, diz.

Mas sem exageros. “Acontece muito em segundas-feiras, por exemplo, de consultórios e hospitais lotarem por causa de pessoas que assistiram reportagens, séries ou filmes em que aparecia uma doença rara, com incidência de uma em 100 mil e acharem que elas estão com a doença, quando na verdade são saudáveis. Isso é mais um efeito psicológico ”, finaliza.