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Escravos viveram em todas as regiões da cidade entre 1853 e 1882, diz pesquisador

Embasado em dados e documentos registrados ainda na época da escravidão, professor de História traz em números quantos escravos viveram em Campo Largo

Escravos viveram em todas as regiões da cidade entre 1853 e 1882, diz pesquisador

Nesta segunda-feira (20), é comemorado o Dia Nacional da Consciência Negra. A data foi instituída em homenagem ao Zumbi dos Palmares, escravo que foi líder do Quilombo dos Palmares e morreu no dia 20 de novembro de 1695. Campo Largo também possuiu muitos escravos por volta do ano 1683, e essa história foi objeto de estudo do professor e mestre em Educação, Marcos Roberto Barbosa.

Apaixonado pela cidade e por sua história, o professor pesquisou a fundo quem eram essas pessoas e em que período viveram na cidade. “Em 1853, Campo Largo era uma das seis freguesias da província e tinha uma população de 3690 habitantes; destes 359, eram escravos; em 1866 a população aumenta para 4998, subindo também o número de escravos para 540 pessoas. Em 1871, ano em que Campo Largo se torna município é sancionada a Lei do Ventre Livre, que dentre várias pautas, exigia a matrícula de todos os escravos do Brasil. A partir daí censos mais detalhados são produzidos. Em 1882 havia nesta época 461 escravos, 217 eram mulheres, que trabalhavam em serviços rurais, assim como a maioria da população livre também. É possível dizer que os escravos estavam presentes em todas as regiões do município, pois estavam inseridos na conjuntura socioeconômica do município desde quando era um povoado.”

Entre os documentos reunidos pelo professor para realizar o estudo, estão as cartas de alforrias, algumas ações de liberdade, processos criminais e inventários post-mortem de proprietários de escravos. “Na maioria das cartas havia alguma condição e muita negociação entre o escravo e seu proprietário. Quando o senhor concordava em se desfazer de seu bem, geralmente estipulava um valor, que podia ser pago em réis, moeda da época, ou prestando serviço por determinado tempo até que finalmente, o escravo conseguisse sua alforria, se tornando a partir dali um liberto”, explica.

A forma como é estudada a história do escravo, não o coloca como protagonista no processo de escravidão, isso, segundo o professor, acontece porque a história da escravidão no Brasil é vista com muita vergonha pela própria população, algo que está sendo mudado aos poucos na Educação brasileira. “Aprendíamos sobre a abolição, mas nada sabíamos sobre o escravo. Parecia que ele estava acomodado com a situação, esperando a boa vontade das elites políticas da época para se tornarem livres. Apesar de sermos informados sobre a existência de escravos fujões e que se juntavam em quilombos ou mocambos, esta parte era pouco trabalhada entre os professores e nos livros didáticos da época em que eu era estudante. Hoje estes assuntos são mais problematizados em sala de aula, no sentido de evidenciar que as fugas e a formação de quilombos demonstravam o desejo de tornarem-se livres das correntes da escravidão, estas atitudes extremadas sinalizavam a resistência dos negros à escravidão”, esclarece.

Deve ser comemorado

Apesar dessa data não receber um destaque maior, segundo o professor, o Dia Nacional da Consciência Negra deveria ser vista com orgulho pelos brasileiros. “Assim como os imigrantes italianos, poloneses, alemães, os negros também ajudaram na formação de nossa identidade, como campo-larguenses. No dia 20 de novembro de 1695, Zumbi, um dos líderes do Quilombo dos Palmares foi morto. Zumbi é sinônimo da resistência negra à escravidão, do dizer não àquela situação de opressão. Depois do dia 13 de maio de 1888, a condição escrava de grande parte da população negra deixou de existir oficialmente, mas a população negra continuou, na prática, excluída de direitos básicos, muito por conta do legado deixado pela cultura da escravidão, que no Brasil durou mais de 300 anos”, descreve.

Cotas raciais

Objeto de muitas discussões, as cotas raciais são obrigatórias em concursos públicos e vestibulares em todo o território nacional. Foi implantada primeiramente em 2002, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e adotada pela Universidade de Brasília (UnB) em 2004. A intenção era diminuir as disparidades socioeconômicas e educacionais no Brasil.

“O sistema de cotas visa acelerar um processo de inclusão social de grupos que por um motivo ou outro, estão à margem da sociedade. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 1997, apenas 1,8% dos jovens entre 18 e 24 anos que se declararam negros havia frequentado uma universidade. Em dados divulgados pelo IBGE do final do ano passado, a população negra corresponde a 54% do total da população brasileira, no entanto sua participação no grupo dos 10% mais pobres é em torno de 75%. Estes dados revelam que as cotas são necessárias, e que muito ainda deve ser feito para promoção da igualdade social no Brasil, por isso minha opinião é favorável à existência das cotas raciais para os negros e os indígenas”, finaliza.