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Os desafios na educação de surdos são diários, diz especialista

Conheça os principais desafios no segmento da Educação que resultou em tema de Redação da prova do Enem

Os desafios na educação de surdos são diários, diz especialista

A redação da prova do Exame Nacional do Ensino Médio – Enem pegou muita gente de surpresa no primeiro dia de provas do Enem, pois trazia como tema “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”, tema bastante específico e pouco falado.

Para a professora Daniela Liberato, coordenadora do Centro de Atendimento Especializado na Área da Surdez (Caes), alocado na Escola Municipal Infantil Primeiro de Maio, o maior desafio na educação de pessoas com deficiência auditiva é a inclusão no mundo dos ouvintes. “O que precisamos entender primeiramente é que a língua-mãe deles é Libras. Eles são letrados na L1-Libras e na L2- Língua Portuguesa na modalidade escrita. Além disso é necessário que eles sejam respeitados nas suas condições. É importante que mais pessoas ouvintes, que é como chamamos aqueles que falam e ouvem sem nenhuma dificuldade, aprendam Libras, para recepcionar melhor essas pessoas quando são inclusas, seja dentro de uma empresa, em um colégio ou faculdade.”

Libras foi considerada em 2002 pelo Governo Federal a segunda língua oficial do país, mas ainda em 2000 Campo Largo já havia reconhecido o idioma. Vale destacar que desde esse feito, nunca faltaram professoras intérpretes aos alunos inclusos. Assim, há uma professora regente em sala de aula e outra professora intérprete, que faz a tradução simultânea daquilo que está sendo trabalhado durante a aula.

Vale ressaltar que o Caes não é uma escola, mas sim um Centro de Apoio Pedagógico, que ensina Língua Portuguesa falada e escrita para alunos e pessoas surdas. Hoje, 12 alunos recebem o atendimento realizado por seis professoras intérpretes.

Enem para surdos

Somente esse ano, alunos que declaram ter deficiência auditiva puderam optar por ter uma prova diferenciada no exame, com um DVD transcrevendo a prova no idioma Libras. Foi considerado um marco, uma conquista para essa classe. Quem optasse por esse DVD teria o direito a 120 minutos a mais de prova.

Na verdade, antes eles poderiam fazer a prova com uma intérprete presente, mas essa pessoa não poderia traduzir toda a prova, mas ajudar com sinônimos os vocábulos não compreendidos. “Há uma grande dificuldade na prova de língua estrangeira. Em sua maioria, eles optam pelo Espanhol, por acharem a grafia parecida com o Português, mas quando há dúvidas sobre determinada palavra fica difícil para o intérprete encontrar uma palavra para substituir”, conta Daniela.

“Ambas as escolhas são difíceis, pois imagine ter que ler uma prova tão extensa quanto é a do Enem em outro idioma, que não o seu. Prejudicava muito essas pessoas. A opção do DVD também é uma conquista de toda a classe”, diz Daniela. Há três anos o edital da prova já está disponível também em Libras.

Neste ano, Campo Largo não teve nenhum aluno surdo realizando a prova do Enem, pois a grande maioria desses alunos ainda não tem idade para fazer a prova.

Avanço para a acessibilidade

A professora explica ainda que todas as conquistas avançam para a acessibilidade e uma sociedade com mais oportunidades para a pessoa surda. “Os mais antigos vieram de uma fase oralista, que não tinha língua de sinais, depois veio a Libras, momento em que algumas pessoas da fase oralista quiseram aprender e viram que ali tudo se torna compreensivo.

A língua dá identidade, mas vemos que a sociedade ainda não está preparada para conviver com o surdo, ele ainda precisa se adaptar ao ambiente que está inserido. Infelizmente a Libras fica restrita a pessoas que fazem cursos, oficinas e a sociedade ainda não sabe o básico para se comunicar. Esse pode ser o nosso próximo passo, um maior número de pessoas falantes sabendo Libras”, diz.

Curso de Libras

O Caes realiza há 10 anos a oficina de Libras para interessados. Podem participar pessoas a partir de 15 anos, em horários da manhã e tarde. Na oficina, os aprendizes trabalham diretamente com os surdos realizando a tradução simultânea.

O curso inicia no começo do ano e termina, geralmente, em outubro. Mais informações pelo telefone: 3292-7447 (pedir para falar com alguém do Caes).

ERRATA: Na edição impressa nº 1497 foi colocado na matéria que pessoas com deficiência auditiva aprendiam a fazer leitura labial, mas quem realiza esse trabalho são os fonoaudiólogos. Também erramos ao colocar que a tradução da prova por meio do DVD era maçante, quando na verdade é uma conquista para essas pessoas. Pelo erro, pedimos desculpas.