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Opinião

Eu não tenho onde morar, é por isso que moro na areia

Eu não tenho onde morar, é por isso que moro na areia

Mais de 100 famílias que habitam, algumas há mais de 35 anos, as barrancas e o fundo de vale, no local conhecido como Razera, entre o Jardim Veneza e a Vila de Lourdes, não têm onde morar. As casas, por ordem judicial, devem ser desocupadas e demolidas e a Prefeitura deve revitalizar toda a região, transfromando-a num parque.

A ocupação, desordenada, fez nascer uma comunidade carente, mas trabalhadora. Ano após ano, a união dos moradores e a pressão sobre os políticos fez com que fossem instaladas redes de distribuição de energia elétrica, água e rede de esgotos. Hoje, apesar da aparência de precariedade, o Razera é uma comunidade que tem quase tudo. Só a coleta do lixo não é feita na porta, porque os caminhões de lixo não descem o baranco, pois correm o risco de não subir.

Uma moradora, ao ser entrevistada pela Reportagem da Folha de Campo Largo, sobre o problema que todos terão que enfrentar, nos próximos dias, meses, talvez, lembrou a música do eterno compositor Dorival Caymmi, “Eu não tenho onde morar. É por isso que moro na areia. Todo mundo mora direito. Quem mora torto sou eu”. Disse, a moradora, que mora ali há muitos anos, uns dez anos, aproximadamente, que comprou a casinha por R$ 10 mil, com muito sacrifício, e não tem para onde ir. “Se me tiraremn daqui vou morar debaixo do viaduto”, explicou.

A situação é crítica, grave, e está gerando, pela primeira vez em mais de 35 anos, uma ação direta do Poder Público, em busca de uma solução definitiva. Tudo o que foi feito pelas administrações municipais anteriores, com relação a esta comunidade, foram medidas paliativas que melhoraram a qualidade de vida de todos, como a instalação de redes de água, esgotos, energia elétrica, mas nunca focaram na solução do poblema, na construção de casas populares, para poder oferecer àquelas famílias uma alternativa para saírem da área de alto risco na qual estão instaladas. Agora, com a intervenção do Ministério Público, e do Poder Judiciário, e do comprometimento do prefeito, é possível que a solução esteja um pouco mais perto. Afinal, a Constituição diz que o cidadão tem direito à moradia digna.

No Razera vivem mais de uma centena de famílias de trabalhadores, crianças que merecem viver e crescer em um ambiente mais saudável, com área para lazer, escolas mais perto, estabelecimentos comerciais, panificadora, mercado, que hoje eles não têm. “Vivemos aqui há mais de 30 anos, mas a cidade olha para nós como se fôssemos gente ruim, um perigo. Somos gente boa”, disse uma das mais antigas moradoras do lugar.