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Saúde

Doação de órgãos

Um doador de órgãos pode salvar até oito vidas. Não basta querer, tem que avisar. Com base nessa frase está sendo divulgada uma campanha para estimular a doação de órgãos, nos casos de p

Doação de órgãos

05/10/2015

Por Danielli Artigas de Oliveira

Não basta querer, tem que avisar. Com base nessa frase está sendo divulgada uma campanha para estimular a doação de órgãos, nos casos de pacientes com morte encefálica. Muitas vezes por desconhecimento ainda é alta a recusa das famílias para doar os órgãos de um ente que faleceu e enquanto isso muitas pessoas morrem nas filas de espera.

O Hospital do Rocio sediou, na terça-feira (29), um evento em parceria com o Instituto para Cuidado do Fígado, Governo Estadual e Federal e Central Estadual de Transplantes. Mediado pela capelã Erika Cecconi Borges Massa Checan, o evento foi bastante informativo, sobre como é todo o processo de transplante e doação, e ainda contou com depoimentos. Erika reforçou a importância das pessoas conversarem sobre o assunto e avisar aos familiares próximos se será um doador de órgãos.

“O transplante traz esperança de vida”, afirma o médico do Hospital do Rocio e do Instituto para Cuidado do Fígado, Dr. Fábio Silveira. Em muitos casos o tratamento não é mais eficiente e a expectativa de vida do paciente torna-se baixa, sendo imprescindível o transplante de órgão. O Hospital do Rocio recentemente foi credenciado para realizar transplantes de órgãos e conta com estrutura e equipe treinada para isso.

Segundo Dr. Fábio, o transplante é uma evolução na medicina. Os primeiros casos iniciaram na década de 50 nos Estados Unidos e foram desenvolvidas drogas antirrejeição, possibilitando hoje que 85% dos casos de transplante apresentem resultado positivo e o paciente tenha expectativa de uma longa vida. “O paciente que precisa de transplante é aquele em que o risco de morrer em um ano é grande”, comenta o médico.

Há uma grande lista de espera para receber a doação de algum órgão e muitos pacientes acabam morrendo esperando. Segundo Dr. Fabio, metade dos pacientes esperando transplante de fígado acaba morrendo antes de conseguir a doação. A fila é única para todo o Brasil e todo o processo é feito pelo Sistema Único de Saúde, de forma bem ética e justa.

Além da dificuldade para ser um doador, ainda existe uma alta taxa de negativa da família, em torno de 45%, em que não aceitam doar os órgãos de um familiar. Segundo Dr. Fabio, isso muitas vezes acontece por desconhecimento de todo o processo e talvez porque a família não estava contente com o tratamento que foi recebido. “Por isso precisamos trabalhar para reduzir esta taxa”, afirma.

A Dra. Viviane Buffon explicou sobre o diagnóstico médico de morte encefálica, que precisa de avaliação de neurologista ou neurocirurgião. A morte encefálica é de notificação obrigatória e a doação acontece de acordo com uma fila única nacional.

Para atestar a morte encefálica o paciente deve estar em coma irreversível e o médico deve saber a causa do coma. É preciso que o paciente apresente ausência de hipotermia, de hipotensão, de distúrbio metabólico grave, intoxicação exógena e medicamentosa. A partir disso, Dra. Viviane comenta que começam outras avaliações, como ausência motora supra-espinhal e apneia, se o paciente não tem resposta a estímulo externo, entre outras questões. É preciso seguir alguns protocolos para dar início ao processo de doação, que é bastante seguro e responsável.
 

Relato
Tânia Cristina Paixão, funcionária do Hospital do Rocio, contou sua história de vida. Em 2000 perdeu seu filho de 08 anos de idade. Detalha que ele foi fechar o portão de casa e o mesmo descarrilou e caiu sobre ele. No terceiro dia internado no Hospital Evangélico sofreu morte encefálica. Os médicos explicaram sobre a doação de órgãos, quantas vidas poderiam salvar, mas inicialmente Tânia conta que achavam que daria um outro jeito, que seu filho melhoraria.

“A gente perde o chão. De repente ver o filho naquele estado. Como pai ou mãe sempre achamos que vamos conseguir fazer algo. No meio de muito dor assinei a doação de órgãos”, declara Tânia. Segundo ela, as duas córneas foram doadas para paciente em Curitiba, o coração dele foi para Porto Alegre, ainda foi doado o rim e uma menina de oito anos se salvou com a doação do fígado dele.

Depois disso toda a sua família virou doadora de órgãos, veem isso como homenagem a ele, que morreu tão cedo. “É um momento difícil, mas às vezes esse gesto pode salvar até oito vidas. A doação é a melhor coisa para o paciente que não tem mais solução. É preciso pensar no bem que faz para outras vidas”, relata Tânia.