Sabado às 20 de Abril de 2024 às 06:14:00
EM CAMPO LARGO  | 23º
Saúde

Médico-paciente

Médicos e pacientes não têm mais a mesma intimidade e isso pode interferir no diagnóstico.

Médico-paciente
 
08/08/16
 
A relação de confiança entre médico e paciente anda um pouco desgastada. Não é incomum encontrar pessoas que reclamam da forma como o médico a atendeu durante uma consulta. Recentemente, um caso nas redes sociais - em que um médico satirizou a forma do paciente se expressar quando disse que estava com “peleumonia” e precisava de um “raôxis” - trouxe à discussão sobre o ato de ouvir do médico. 
 
Nessa sexta-feira, 05 de agosto, é comemorado o Dia Nacional da Saúde em lembrança ao médico sanitarista e pesquisador Oswaldo Cruz, que viveu entre os anos de 1872 e 1917, uma época em que havia poucos médicos cuidando de muitas famílias e várias epidemias. Hoje, raramente o médico possui algum tipo de intimidade com o seu paciente, poucas vezes conhece a sua família e essa pode ser uma das maiores dificuldades na hora do diagnóstico, como explica o médico clínico geral Tadeu José Resnauer. “Não há mais envolvimento do médico na vida do paciente. Às vezes ele chega descrevendo sintomas, mas o principal atingido é o seu emocional, o que não é diagnosticado por exames.”
 
Uma das hipóteses para que isso tenha acontecido é a mecanização da consulta, que gira apenas entorno dos sintomas, guias de exames, resultados e medicamentos. “Há necessidade de ouvir mais e melhor. É preciso saber o que está acontecendo com aquela pessoa, porque ela não consegue dormir, comer, relaxar. O médico conseguirá facilmente descobrir se ele souber dar a oportunidade do paciente colocar aspectos e características da sua vida pessoal durante a consulta”, explica o doutor Tadeu.
 
“Muitas vezes o que ele precisa é de um amigo para desabafar, de uma boa conversa”, diz. De fato, conseguir conversar com alguém em quem confia tem sido um dos desafios do mundo moderno e digital. “O médico nesse ponto oferece o que tem de mais caro e precioso na sua profissão, que é a atitude médica. Atitude essa que pode levar anos para se construir, como no meu caso, foram anos de profissão e reflexão sobre o assunto”, diz.
 
Em países de primeiro mundo, médicos de família são supervalorizados e atendem bairros inteiros. “Na Inglaterra, por exemplo, uma mesma comunidade é atendida por um só médico, que encaminha para os especialistas. Eles conhecem as circunstâncias da doença, o ambiente familiar que o paciente está inserido e também conseguem trazer tratamentos direcionados que terão efeitos melhores”, conta o médico. 
 
Muito provavelmente por ter contato com tantas pessoas e conhece-las, Oswaldo Cruz teve sucesso em campanhas de erradicação da febre amarela, peste bubônica e varíola. Exceto quando a população revoltou-se contra ele por conta da obrigatoriedade da vacina, no Rio de Janeiro em 1904. Revolta esta dada pela má administração de informações por parte da imprensa e também pela ignorância do povo à época.
 
O médico especialista deve ser consultado, mas o paciente também deve trazer a ele informações sobre a sua vida pessoal. “Há pacientes que vão ao médico ortopedista com dores na coluna, mas que na verdade estão com problemas psicológicos. O corpo é um só”, explica o médico.
 
Há pessoas que não possuem dinheiro para pagar consultas particulares ou planos de saúde, precisam então recorrer ao Sistema Único de Saúde (SUS) e reclamam da demora para conseguir uma consulta e também da forma como são atendidos. “O Sistema deveria dar mais oportunidade de humanizar os médicos e realizar um maior número de medidas preventivas. Isso seria possível através de uma reorganização no modelo usado”, opina Dr. Tadeu.
 
Mais lazer,  menos trabalho
 
“Nós viemos ao mundo a lazer. Trabalhamos para ter uma vida melhor”, enfatiza o médico. A preocupação em manter a saúde em dia é hoje uma das mais evidentes na sociedade. Muitas pessoas se preocupam com a alimentação, a atividade física, o sono, mas o grande segredo para uma vida melhor, segundo o médico, é o lazer. “O mesmo tempo dedicado para o trabalho, deve ser empregado para o lazer. O trabalho vem para que o lazer possa se desenvolver e ser mais prazeroso”, finaliza.