Baixa histórica da taxa Selic, com média de 0,526% ao mês, pode aquecer o mercado imobiliário. Economista e empresário do ramo imobiliário explica quais as ligações entre os juros pagos nos t&ia
A manutenção da taxa Selic em 6,5% ao ano foi anunciada pelo Banco Central no último dia 31 de outubro, mas grande parte da população brasileira ainda não sabe como essa taxa acaba influenciando os vários setores da economia e também o mercado imobiliário.
Daniel de Brito, economista e empresário do setor imobiliário, explica que a taxa Selic é estabelecida pelo governo federal para venda de títulos públicos. “A partir do momento que você comprou um título público do governo, ele está disposto a pagar uma taxa de juros sobre o valor da compra. Esses títulos são emitidos, geralmente, quando precisa de recursos para construções públicas e ele já não tem dinheiro captado em imposto, utiliza essa venda de títulos para conseguir arrecadar um montante.”
Dentro do mercado imobiliário, a interferência não segue de maneira direta, pois os índices de financiamento imobiliário não são atrelados à taxa Selic. Entretanto, Daniel explica que o recurso destinado ao financiamento imobiliário, em sua maioria, vem da poupança, por isso quanto maior a taxa Selic, menor o recurso aplicado em poupança, porque o governo oferece outras opções de investimentos mais atraentes aos investidores.
“Se eu sou um investidor e tenho dinheiro, ao invés de eu aplicar na poupança, eu parto para um título público, que vai me gerar um rendimento maior e será mais seguro até que a poupança. Se eu tirar esse dinheiro da poupança e investir em títulos públicos, o banco tem menos recursos para emprestar ao financiamento imobiliário. Assim, se tem menos dinheiro, o ‘preço’ do dinheiro, ou o valor de venda deste empréstimo é maior, ocasionando em uma taxa de juros maior para o financiamento imobiliário. Isso afeta não somente a Caixa Econômica Federal, mas também todos os bancos”, explica.
Sabendo disso, quem está interessado em adquirir um imóvel também deve ficar atento a essa informação. “A redução da taxa Selic, que estava em 14% e agora está em 6,5%, causa inversão nesta preposição apresentada. Ou seja, quando o governo oferece um valor menor sobre o título público, muitos investidores acabam optando voltar para a poupança, então com o aumento deste recurso existe maior crédito para emprestar e a cobrança da taxa de juros é menor”, diz.
Daniel apresenta alguns juros apresentados pelos principais bancos e que podem ser atraentes para quem pretende adquirir um imóvel. A Caixa Econômica Federal, por exemplo, baixou seu juro para financiamento imobiliário de 10,25% para 9% ao ano, o Banco do Brasil passou de 9,24% para 8,89%, assim como os bancos Itaú, Santander e Bradesco também apresentaram queda.
O comportamento de subidas e quedas da taxa Selic são bem variados. “Essas variações são estipuladas pelo Conselho Monetário do Brasil, e depende muito da situação da economia, plano econômico do governo, de quanto recurso precisa ser captado, por isso não existe uma época do ano que ele fica maior ou menor. Quem quer investir ou comprar uma casa, como é o objeto da conversa, precisa ficar atento ao plano econômico do governo para verificar se há tendência de aumentar ou diminuir a taxa de juro. Quando ela está estável, como é o caso de hoje, trata-se de uma época boa para investimentos. Pode ser que o governo precise aumentar essa taxa e sofram alterações”, explica.
Fim de ano e aquisição de imóvel
Com o dinheiro extra que o trabalhador recebe no final de ano, como décimo terceiro, o dinheiro do Programa de Participação de Lucros e Resultados (PLR), férias, entre outros, aumentam as possibilidades de dar entrada na compra de um imóvel. “Essa é uma época boa, pois às vezes consegue completar esse dinheiro da entrada. Entretanto, vale destacar que os recessos podem acabar atrasando um pouco a aprovação do financiamento, mas não impacta tanto no financiamento, pois quem está convicto do plano de comprar um imóvel, é perfeitamente possível fazer negócio”, diz.
Transição de governos
O Brasil passa hoje pelo período de transição de governos, tanto na esfera federal como estadual, e que pode impactar em várias áreas, mas como o crédito imobiliário acaba sendo um motor da economia brasileira, Daniel acredita que não haverá grande impacto. “Em um curto prazo não há grande impacto porque os planejamentos são projetados para prevenir essas situações. É claro que alguns programas do governo federal podem sofrer alteração a um longo prazo, mas isso é algo que só conseguiremos saber no futuro, quando o governo já estiver instalado”, ressalta.
Daniel destaca que hoje o mercado imobiliário e o ramo de construção civil estão entre as áreas que apresentam maior destaque, que mais geram renda, imposto e emprego no país, por isso, deve receber uma atenção especial do futuro governo.
“Com a melhoria da economia promovida pelo governo e maior liberação de crédito para a construção civil, há maiores possibilidades de empresas no ramo conseguirem fazer um grande número de obras, algumas seguidas, o que evita a dispensa de pessoal, por exemplo. Obras de grande porte podem gerar mais empregos do que uma fábrica, por exemplo”, acrescenta.