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Saúde

Text neck

Uso exagerado de celulares pode trazer danos à saúde. O “text neck” prejudica a postura e traz complicações para o corpo todo. Fisioterapeuta fala sobre o assunto.
 

Text neck

22/01/2016

Não é difícil flagrar pessoas caminhando com a cabeça baixa, olhando para o celular. Isso pode causar um sério problema de coluna e desperta a atenção de fisioterapeutas e médicos, que já possuem um termo próprio para descrever o problema, o text neck. O termo vem do inglês e quer dizer pescoço de texto, que dá referência ao ato de digitar com a cabeça indevidamente inclinada.

Fernando Coutinho Filho, fisioterapeuta há 10 anos, conta que conseguiu acompanhar desde o surgimento dos primeiros casos, que ele define por epidemia. Ele atende, em média, 10 a 15 pacientes por dia com esse problema. “Basta olhar ao redor e sempre terá alguém com a cabeça baixa, olhando para o celular. Muitas vezes, o paciente, que está fazendo fisioterapia para curar o problema, está com celular nas mãos e cabeça baixa na sala de espera. É uma consequência da globalização, ocasionado por um mal necessário, o celular traz benefícios em um ponto, mas prejudica em outro”, comenta.

O corpo humano é feito de equilíbrio e forças. Os músculos são responsáveis pela movimentação e a coluna pela sustentação – ambos responsáveis em manter a posição ereta. Caso isso não seja respeitado, o corpo começa a sofrer as consequências. Quando se utiliza o celular, o corpo se projeta para a frente, sem a intenção de andar, gerando uma inclinação que passa a sustentar quase 30 kg, conforme explica o especialista.

Fernando alerta para o cuidado com o uso de aparelhos por crianças e adolescentes. “O corpo humano foi feito para se manter em movimento. Uma criança ou adolescente, que ainda está em fase de crescimento, deve preocupar-se com atividades externas. Os adolescentes acabam sentindo mais dores pelo uso de celulares, tablets, notebooks e videogames”, explica. A recomendação para o uso diário de smartphones e outros aparelhos tecnológicos sem causar danos é de apenas duas horas, fracionadas ao longo do dia.

Os problemas que podem surgir a partir do uso abusivo do celular podem atingir o corpo como um todo. “Além das alterações de postura, também acarretam-se alguns problemas como crescimento, dores de cabeça, dores nos olhos, disfunção de ATM, podendo chegar a problemas de respiração e até trato gastrointestinal, simplesmente por ficar muito tempo com a cabeça baixa” explica.

Os membros superiores podem apresentar problemas como formigamento, dores, problemas na lubrificação das articulações e também problemas neurológicos. O fisioterapeuta explica que pelo fato da pessoa inclinar a cabeça e girá-la, os nervos do pescoço são comprimidos, refletindo em todo o corpo. As mãos são afetadas quando o celular é colocado em frente ao rosto, comprimindo nervos do cotovelo e punhos, passando a desenvolver alterações tendinosas, que dificultam tarefas simples do dia-a-dia, como escrever, pentear os cabelos e alimentar-se.

Existem maneiras para evitar o text neck, como a realização de fisioterapia voltada para a reeducação da postura, atividade física, o ato de espreguiçar e alongamentos. Os tratamentos para quem já foi atingido pela complicação, além do tratamento fisioterápico, é deixar de usar o aparelho por longos períodos. O caso, se muito complicado, pode vir a tomar proporções cirúrgicas. “Algumas vezes, as degenerações nas articulações são tão grandes que desgastam a cartilagem e promovem um atrito entre os ossos; a artrose pode vir a se tornar uma hérnia ou várias outras lesões que tendem a um procedimento cirúrgico para corrigir”, finaliza.

Nomofobia
Muitas pessoas possuem uma necessidade tão grande de usar o celular que acabam desenvolvendo a nomofobia. Trata-se de um termo dado pela psiquiatria para descrever a fobia gerada pela falta de um aparato tecnológico, seja ele celular, tablets, computadores, entre outros. A expressão foi criada na Inglaterra, onde no-mobile significa sem celular.

Os sintomas para quem sofre com o problema são ansiedade em ficar ao menos 30 minutos sem o aparelho, agitação e alteração de humor. Em casos mais extremos, tonturas, dores de estômago, suor frio e até aceleração dos batimentos cardíacos. O tratamento consiste em exercício do autocontrole, mudança de hábitos extremos e auxílio profissional com terapia. Em alguns casos, é recomendado o uso de medicamentos.