Em 2025, mais de 77% das famílias brasileiras enfrentam algum tipo de endividamento, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio (CNC). No Paraná, a realidade não é diferente: a inadimplência está nas casas e também pelos consultórios psicológicos. O que antes era apenas um problema no orçamento, hoje se mostra como um dos grandes gatilhos para transtornos emocionais.
“Estresse, ansiedade, culpa, vergonha e até depressão são reações comuns entre pessoas endividadas. A angústia de não conseguir honrar compromissos financeiros cria um ciclo de sofrimento muito difícil de romper, especialmente quando a pessoa se sente sozinha ou envergonhada para pedir ajuda”, explica a psicóloga Priscilla Kivia Chervinski (CRP 08/27521).
Segundo Priscilla, é comum que o endividamento afete as relações familiares e sociais. “A pessoa se isola por vergonha e acaba se afastando de amigos e parentes. Dentro de casa, surgem conflitos e cobranças, gerando um ambiente de tensão constante.”
Ao contrário do isolamento, ter o apoio emocional em um momento delicado como este, acaba sendo indispensável no processo de recuperação. “Procure conversar com pessoas de confiança, que não vão julgar. E, se possível, busque ajuda profissional — existem atendimentos psicológicos sociais e gratuitos em universidades, por exemplo.”
Sinais de alerta como dificuldade para dormir, tristeza intensa, irritabilidade e pensamentos negativos sobre o futuro são indícios de que as finanças já estão afetando seriamente a saúde mental e deve-se procurar ajuda profissional.
Outro ponto de atenção, segundo a psicóloga, é a procrastinação. “Adiar a resolução dos problemas gera ainda mais ansiedade. É preciso enfrentar a situação com pequenos passos, criando metas reais e alcançáveis. Uma pessoa emocionalmente equilibrada, mesmo sem muito conhecimento sobre finanças, consegue lidar melhor com o dinheiro. Já quem está desestabilizado tende a agir por impulso, o que piora ainda mais a situação”, afirma Priscilla.
A psicóloga finaliza explicando que o psicológico vai além de transtornos financeiros: “O dinheiro deve ser uma ferramenta para o bem-estar, não o centro da vida. Quem controla bem as próprias emoções, controla melhor as finanças.”
Organize sua vida financeira
A bancária e especialista em investimentos Jaine Elias Quadra reforça que, na maioria das vezes, o primeiro passo para a organização financeira é simples, mas negligenciado por grande parte das pessoas. “É fundamental fazer um diagnóstico financeiro. Ter clareza sobre todas as dívidas, receitas e despesas é o ponto de partida para reorganizar a vida. Um erro muito comum é tentar renegociar dívidas sem mudar os hábitos. As pessoas continuam gastando de forma impulsiva, fazendo acordos que não cabem no orçamento — e isso só aumenta o problema.”
Jaine reforça que a melhor saída para dívidas é negociar com consciência. “Foque nas dívidas com juros mais altos. E se for pegar um empréstimo para quitá-las, só vale a pena se a taxa for muito menor do que a original. O ideal é gastar menos do que se ganha e pagar as dívidas antes de pensar em investir.”
Depois que as dívidas estiverem pagas, o investimento deve começar a ser planejado. “Mesmo quem ganha pouco pode criar uma reserva. Guarde um valor fixo assim que receber seu salário, ainda que seja pequeno. O importante é a constância e o hábito. Tenha um planejamento financeiro com metas realistas e busque conhecimento. Não adianta querer investir se ainda não saiu do endividamento”, finaliza.
Saúde
Dívidas afetam a saúde mental e retomar o controle é essencial para qualidade de vida
