O chocolate deve ser ofertado após uma grande refeição, quando a criança consumiu uma porção boa de nutrientes, fibras, proteínas, gorduras saudáveis
Aquele cenário muito tradicional: domingo de Páscoa, as crianças acordam e vão em busca dos ovos de chocolate deixados pelo coelhinho, podem ser eles escondidos ou mesmo deixados no quarto. A próxima cena seria: criança comendo chocolate em jejum ou indo tomar café da manhã supersaudável? Essa ansiedade acontece em vários lares, das crianças que abrem para ver o que tem dentro do ovo e já aproveitam para comer um pedacinho. Porém, os pais devem ficar atentos a alguns detalhes.
A nutricionista Franciele Viezzer Wendler explica que o chocolate em jejum é a pior opção. “Causa um pico de glicemia e depois vem a hipoglicemia de rebote, que dá enjoo e mal estar. Quando sobe demais a glicemia, o corpo libera muita insulina, causando uma baixa posterior. Além de levar a criança a querer cada vez mais o doce, transformando a criança em uma refém. O ideal é ela ter um café da manhã bem balanceado, com fibras e também proteínas, e depois o chocolate.”
Ela diz ainda que a Sociedade Brasileira de Pediatria, na parte nutricional, preconiza a primeira ingestão de doces pelas crianças a partir dos 02 anos. “Os estudos recentes mostram que quando não expõem as crianças a esse açúcar, a probabilidade dela desenvolver alguma doença, como a diabetes, no futuro é diminuída. Isso inclui também até pela formação do paladar, já que quanto menos a gente estimula o doce, menos elas vão pedir ao longo do tempo. A partir dos 02 anos, até pelo convívio social, a criança começa a comer doces e chocolates, mas isso não deve se tornar rotina, que seja uma exceção, como em um final de semana, uma pequena quantidade, pode ser consumido.”
Ela destaca a importância de oferecer à criança a unidade, um tamanho pequeno, ideal para ela. “Ao ofertar uma barra de chocolate, ela vai querer comer a barra toda. Se ela receber uma porção individual, ela sabe que aquela é dela, é o ideal. É comparado a um treino, então se adaptamos a criança a comer aquela porção, estamos mostrando para o corpo dela que aquela é a quantidade adequada e vai se acostumar. O chocolate deve ser ofertado após uma grande refeição, quando a criança consumiu uma porção boa de nutrientes, fibras, proteínas, gorduras saudáveis, já que isso ameniza para que o chocolate não faça um pico de glicemia no corpo dela”, recomenda.
Para crianças que ainda não têm idade para consumir chocolates ou aquelas que sofrem alguma restrição alimentar, os familiares e amigos podem encontrar opções diferentes para montar uma cesta de Páscoa, com ovinhos com alimentos mais saudáveis, como uva passa ou cereja desidratada, utilizando da criatividade.
Em alguns casos, familiares podem insistir em dar doces para os pequenos, menores de 02 anos. “A qualidade da alimentação irá refletir na flora intestinal da criança, que é o sistema imune mais importante. Dependendo do tipo de oferta, acaba povoando um tipo de bactéria no intestino, o que acontece com o açúcar, que traz essas bactérias que não são do bem. Por isso, sempre vale uma conversa em família. Muitas vezes as pessoas dizem ‘ela está com vontade’, mas na verdade ela não conhece aquele sabor, então é importante evitar ao máximo”, orienta.
Qual devo escolher?
Franciele explica que quanto maior a quantidade de cacau, melhor a qualidade do chocolate, pois esse fruto oferece vários benefícios para o organismo, por conter antioxidantes e nutrientes como ferro, magnésio e potássio. Consequentemente, a maior quantidade de cacau deixa o chocolate mais amargo, o que torna mais difícil a criança se adaptar a ele. “Tentar acostumar a criança com o teor do cacau mais elevado, que é o ideal, pode ser uma saída. Porém, se ela não quiser, pode ser introduzido o chocolate ao leite, mas o fundamental é o equilíbrio da quantidade”, explica.
Outro chocolate que é encontrado em vários locais para venda, e chama atenção pelo preço mais baixo, é o hidrogenado. “Os chocolates hidrogenados são extremamente maléficos à saúde, pois a gordura hidrogenada é uma gordura modificada pela indústria, um tipo de gordura que o corpo não reconhece como alimento, então ele estoca nas artérias. Esse é um dos maiores venenos”, alerta.
O chocolate branco também está entre os vilões, pois contém uma grande quantidade de gordura e açúcar e nem mesmo contém o cacau.
Existem no mercado algumas opções mais saudáveis, com menos produtos industrializados, com teor menor de açúcar, como açúcar de coco e xilitol, porém tudo vai da palatabilidade da criança. Uma opção também é o ovo de alfarroba, que tem um gosto bastante semelhante ao chocolate, sem lactose, glúten ou adição de açúcar. Aos pais, quando forem comprar, a nutricionista alerta para que leiam os ingredientes e busquem comprar os que não tem o açúcar como primeiro ingrediente, já que é sinal que esse é o ingrediente em maior abundância no chocolate.
Alergia e enxaqueca
Existem pessoas que podem ter reações alérgicas ao consumirem chocolate. “Tem aquelas que são intolerantes ao açúcar do leite, que é a intolerância à lactose, e também a alergia à proteína do leite. Os sintomas são incômodo gastrointestinal, estufamento, diarreia, reações na pele. O médico deve ser procurado nesses casos”, adverte.
A enxaqueca pode ser estimulada pelo consumo do chocolate, por isso, pessoas que sofrem desse mal, devem ter um controle maior no consumo.