Conheça a história de Waldeburg Bornholdt, de 90 anos, que acredita que a direção traz renovo para sua mente
Diz o ditado que “mulher no volante, perigo constante”, mas será que é assim mesmo? De acordo com os dados divulgados pela Seguradora Líder, responsável pelo Seguro DPVAT, este ditado não está correto. Segundo o levantamento das mais de 328 indenizações pagas em 2018, somente 25% delas foram feitas por acidentes que envolviam vítimas mulheres.
Dentro deste levantamento, foi possível constatar que as mulheres jovens, de 18 a 34 anos, são as mais atingidas por colisões, sendo pagas a elas cerca de 47% dos pagamentos. Em segundo lugar no grupo, entre as mais atingidas estão as senhoras entre 45 e 64 anos. O período do dia que mais foram registradas ocorrência foi ao anoitecer, com 23% dos casos. A entidade não pesquisa as causas de acidentes, mas indica que há pesquisas que comprovam que o número de acidentes e/ou desrespeito às leis de trânsito são menores quando as mulheres são mães.
A Folha de Campo Largo conversou com Elizabeth Stival, instrutora de trânsito há 18 anos, para verificar se esse perfil mais cauteloso também é visto nas autoescolas. “Eu acredito que o perfil dos jovens que estão interessados em conseguir uma carteira de habilitação está bem diferente de antigamente. Eles são bem mais conscientes, porque antigamente as pessoas já chegavam sabendo dirigir. Hoje, com as leis mais rígidas e uma maior conscientização da responsabilidade e educação, apesar dela ainda não ser ideal, isso ajuda muito a formar um condutor consciente. Isso em ambos, tanto em homens como mulheres.”
Ela diz que as salas são bem divididas, composta de homens e mulheres, que em geral já trabalham e aliam estudos (faculdade, cursos e cursinhos), por isso há uma maior necessidade de ter a carteira de habilitação. Porém, ela ressalta que ainda há pessoas de todas as idades procurando as autoescolas. “A carteira de habilitação é o passaporte de entrada para a vida de motorista, que será aprimorada somente com a prática. É com a prática que o motorista vencerá seus medos e suas dificuldades, mas para isso ele precisa de um bom embasamento, por isso o conhecimento teórico é tão importante”, diz.
Quando perguntada sobre sua opinião frente à pesquisa feita pela Seguradora Líder, Elizabeth acredita que envolva a própria forma de ser, as diferenças entre homens e mulheres. “As mulheres são muito mais detalhistas, prestam muita atenção a várias coisas ao mesmo tempo e a direção exige esse cuidado. Quando você está no banco do motorista, precisa estar atento ao seu veículo, aos veículos que estão no mesmo espaço, ao pedestre, ciclista, motociclista, sinalização do local e também o trajeto que precisa ser feito. Também é importante frisar que neste momento a mulher é motorista e não deve atender crianças pequenas, apartar brigas dentro do carro, fazer maquiagem, comer ou beber. A atenção de todo motorista deve ser exclusiva ao trânsito”, adverte.
“O que os motoristas precisam ter em mente é que as consequências no trânsito vão além de uma multa, pontos na carteira ou suspensão e cassação dela. Toda a sociedade está envolvida no trânsito, a partir do momento que você sai da sua casa, mesmo a pé, é pedestre. Um minuto de desatenção, uma imprudência pode tirar a vida do motorista, de alguém que ele ama ou de outra pessoa que também tem uma família. Você pode prejudicar a vida inteira de uma pessoa. Trânsito é algo muito complexo e sério”, finaliza.
50 anos de experiência
Waldeburg Bornholdt Gouveia, conhecida como dona Wally, tem 90 anos e é uma motorista exemplar. Ela conta que começou a dirigir aos 40 anos e já acumula 50 de experiência, sem multas ou acidentes graves. “Eu comecei a dirigir aos 40 anos, quando meu marido comprou um Opala novinho, bonito. Nós morávamos em Maringá naquela época e não existia autoescola, apenas o exame prático. Ele não queria que eu dirigisse, falava que eu não ia saber como fazer e não me deixava pegar o carro.”
“Mas eu não me conformava com essa atitude dele, ficava olhando como ele fazia e quando estava dormindo eu pegava meu filho, que na época não tinha um ano, a menina que me ajudava a cuidar dele e da casa, colocava eles no carro e saía dar uma volta. Eu sempre falava para a menina ‘se acontecer alguma coisa você corre chamar o homem. Eu sempre andava por ruas mais calmas, que não tivesse tanto carro’”, relembra dona Wally.
Depois de aprender a dirigir, ela tirou a habilitação e possui o documento válido, sendo aprovada em todos os exames exigidos para manter a CNH válida.
Um fato chama atenção dela, ao relembrar os tempos em que acabara de aprender a dirigir: “depois que eu peguei mais prática, os homens iam trabalhar e eu voltava com o carro para casa. Uma vez o carro afogou e eu parei no meio da rua. Vinha um caminhão e eu fiz sinal com a mão, o moço parou, olhou e disse que eu tinha afogado o motor. Ele arrumou para mim e desde então não tive mais problemas, que eu me lembre”, diz.
Aos 90 anos, ela ainda faz algumas viagens até Curitiba no banco do motorista. Disse prezar muito pela lei e busca sempre estar atenta à sinalização. Hoje ela diz ter um pouco de medo de dirigir até Curitiba com muita frequência, pois percebe que os motoristas estão andando mais rápido, cortam preferenciais, entre outros. “Também tem muito movimento, muito carro hoje, motociclistas, ciclistas. As pessoas também estão diferentes, mais nervosas, xingam, buzinam por qualquer coisa. Isso dificulta bastante, mas acredito que temos muito o que crescer no trânsito ainda”, declara.
O importante é que dirigir ainda é uma das atividades preferidas da dona Wally, um momento que ela aproveita para renovar a sua mente, exercitar o cérebro e firmar, ainda mais, a sua independência.