A chuva chegou à madrugada desta quarta-feira (06), o que já pôde reavivar a esperança de ter um solo mais úmido para o plantio, entretanto, Hugo Ruthes, do Sindicato Rural de Campo Largo, explica que a agricultura
A chuva chegou à madrugada desta quarta-feira (06), o que já pôde reavivar a esperança de ter um solo mais úmido para o plantio, entretanto, Hugo Ruthes, do Sindicato Rural de Campo Largo, explica que a agricultura precisaria de pelo menos sete dias de chuva lentas para comemorar uma melhoria na terra. “O que caiu nesta madrugada do dia 06 é o equivalente para molhar os 10 primeiros centímetros da terra e, para considerarmos uma umidade da terra próxima do normal, que ela está fofa, seria necessária uma chuva que molhasse entre 1m e 2m de profundidade. Seria equivalente a uma chuva lenta de uma semana, caindo na base de 40 a 50 mm de água por dia. Não deve ser pancadas de chuva, pois a água escoa e não penetra na terra.”
Com um verão e início de outono secos, sem chuvas em grande proporção há quase quatro meses, Campo Largo está em uma das maiores secas da história. "A seca prejudica muito mais que o Coronavírus hoje na agricultura campo-larguense. Grande parte das produções rurais são feitas por famílias, então não há isolamento social. O primeiro impacto sofrido foi quanto às entregas das verduras, legumes e frutas, pois muitos comércios estavam fechados.
Agora, com a abertura e o uso de todos os equipamentos de segurança, como máscara, álcool em gel nos caminhões, luvas e o distanciamento seguro para realizar as entregas, esse problema foi resolvido. A maior questão no campo é mesmo a falta de chuva", explica.
Para produtores rurais que se dedicam à produção de cereais, como soja e milho, a falta da chuva não causou interferência. Inclusive, segundo Hugo, a soja, com a crise mundial, sofreu uma interferência positiva, com aumento razoável - que varia de produtor para produtor - sendo exportada para alguns países. Com o milho foi o contrário, sofreu alta no preço, resultando em um impacto negativo.
O problema maior está na produção de frutas, verduras e hortaliças, que necessitam da chuva para ter uma safra boa. "Ainda pouca gente investe na irrigação das lavouras, que se faz tão importante em momentos como esses, em Campo Largo o número é muito baixo, quase zero. São produtores de verduras os que mais investem na irrigação e na estufa, pois o consumidor final analisa muito a beleza do produto na hora de comprar. Infelizmente, a produção rural não é igual um escritório, que você pode trocar um computador e fica tudo certo. Esse é um investimento de anos, a longo prazo e agora já não tem mais o que ser feito", diz.
A grande maioria dos produtores retiram água para a produção de poços, mas, de acordo com Hugo, muitos desses poços já apresentam reflexos da seca com baixo nível de água. "Produtores que estão com poços secos precisam buscar água em outros lugares para molhar a lavoura. Precisamos de chuva urgente, mas infelizmente é algo fora do nosso controle; as garoas que dão - e que já se tornaram raras - não contam para quem produz. Infelizmente, a falta de chuva pode impactar nos produtos finais e também no preço", finaliza.
Pecuária afetada
Assim como a agricultura, a pecuária também tem sentido os efeitos da falta de chuva. A zootecnista Cassiane Pereira Torres explica que a seca impacta nas pastagens, diminuindo a produção de insumos, gerando assim o aumento dos preços. Ela exemplifica os impactos nas produções de mel, já que a florada foi prejudicada pela seca prolongada e também a criação de peixes, pois os açudes estão secando e não há renovação de água suficiente.
"Em relação à produção de leite, temos alguns cenários. O produtor que se planejou e produziu alimento volumoso para alimentar os animais no cocho juntamente com a dieta equilibrada com concentrados e outros ingredientes, está mais tranquilo, pois não depende exclusivamente da pastagem. Principalmente animais em confinamento, que recebem a dieta inteiramente fornecida no cocho e balanceada pelo nutricionista", diz.
Entretanto, em casos de produtores que criam gado a pasto são mais complicados, pois a falta de chuva prejudica a produtividade da forrageira, que em muitos casos é a principal ou única fonte de alimento dos animais. "Se pensarmos em um aspecto geral, a conturbação no cenário econômico prejudica também nas cotações de insumos, compra de concentrado e comercialização de produtos. Em algumas regiões, por exemplo, já existe um excesso de produto no mercado, o que diminui o preço pago ao produtor", explica.
Com isso, Cassiane descreve uma situação em cadeia que vem junto com a crise, incluindo a diminuição de poder de compra do consumidor final, que acaba selecionando os produtos essenciais e diminuindo o consumo de derivados - é o caso de produtos derivados de leite, por exemplo, ou cortes de carnes mais nobres. Assim, com altas de preço de insumos, dólar alto, aumento de custo de produção e o produtor não pode parar de produzir. "Muitas vezes faz com que quem trabalha sem conhecimento técnico dispute com quem se planeja, o que diferencia o sucesso do fracasso na produção e faz muitos pararem com a atividade", finaliza.
| Fotos: Haroldo Marconni |