Quinta-feira às 17 de Julho de 2025 às 03:10:06
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Lições como rede de apoio e consciência corporal podem prevenir crimes contra crianças

No combate à violência infantil, família, escola e sociedade precisam caminhar juntas na prevenção e garantindo a segurança das crianças

 

Lições como rede de apoio e consciência  corporal podem prevenir crimes contra crianças

No último dia 18 de maio foi o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, data escolhida em memória ao crime bárbaro e que chocou o Brasil, de Araceli Cabrera Sanches, que com apenas oito anos foi sequestrada por jovens do estado de Espírito Santo, que foi drogada, espancada, estuprada e morta, além de ter seu corpo desfigurado por um ácido. Poucas pessoas foram capazes de denunciar o acontecido, conforme a Fundação Abrinq, o que corroborou para decretar a impunidade dos culpados. 

Assim, a data visa alertar toda a comunidade para a importância de ouvir e dar voz às crianças e adolescentes. A Folha conversou com os policiais Serafim e Eliane, educadores sociais do Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência), que falaram um pouco sobre como o programa, que muitas vezes é a primeira oportunidade de contato entre a criança/aluno e um policial, também atua na prevenção da violência infantil. “Na aplicação do Proerd, no currículo para crianças do Ensino Fundamental (5º ano), dentre vários temas abordados na Lição 10 – Obtendo ajuda dos outros, é orientado o estudante a pensar e elaborar a sua rede de ajuda, onde ele sendo o centro da rede ira listar pelo menos seis pessoas a quem ele pode pedir ajuda para todas as situações que vier necessitar”, contam os policiais.

Em geral, o trabalho é feito principalmente com crianças na faixa etária dos 10 anos, que é o período onde apresentam maiores riscos de casos de pedofilia ou abuso sexual, conforme explicam, principalmente por pessoas de fora do círculo familiar. Além disso, o Proerd também possui um material de trabalho para crianças na Educação Infantil, onde no Cartaz 13 é ensinado as crianças na linguagem adequada que seu corpo é sua propriedade privada e podem tomar atitude para defender-se do “mau” contato. De acordo com os policiais, trabalhar temas como estes permite que a criança crie uma consciência maior sobre seu próprio corpo e bem-estar.

Histórias que chegam aos policiais
Os educadores sociais do Proerd contaram que existem situações, antes da pandemia, em que histórias sobre abuso e que acabavam chegando até eles, seja por meio dos alunos – com a dinâmica da caixinha do Proerd, por onde podem ser feitas denúncias e pedidos de ajuda de maneira anônima, bem como pela coordenação da escola. “Na Polícia Militar do Paraná, foram desenvolvidos Manuais de Segurança contra a Pedofilia com orientações específicas para a Polícia, para os pais e para as crianças, sendo que ao policial é tratado o assunto de forma geral e completa, orientado para casos de atendimento a vítimas de abuso, destacam-se algumas posturas a serem tomadas: ser paciente, deixar a criança falar e contar com as suas próprias palavras, ouvir atentamente e pressupor que está dizendo a verdade, confortar a criança, fazer a criança entender que a polícia fará o que foi possível para protegê-la, transmitir preocupação notável, elogiar a coragem da criança, demonstrar repulsa ao ato relatado e ao abusador e entre outras o conceito de que a prioridade é a criança, no caso a vítima”, ressaltam.

Eles seguem explicando que existem também protocolos definidos a cerca de atendimento a crianças e adolescentes vítimas de abuso, sendo abordado na área da Saúde, da Educação e Segurança, onde em uma das situações é definido que o ouvinte que a vítima procurar será seu porta voz, assim evita que ela precise se pronunciar novamente. O ouvinte a partir da situação é também o responsável por estabelecer junto a órgãos responsáveis a rede de proteção à vítima.

Eles explicam ainda que em locais que atuaram e que já havia situações envolvendo alunos, é sempre possível perceber uma divisão de caminhos a serem tomados por essas crianças. “Alguns comportamentos podem demonstrar uma possível vítima de abuso, também que essas vítimas podem desenvolver algumas alterações de comportamento, como se retrair e ou até mesmo desenvolver uma sexualidade precoce”, dizem.

Agora, na pandemia, as aulas do Proerd ainda não estão sendo ministradas por conta de que um dos princípios do programa é ter o contato com o policial na sala de aula. Tão logo comecem as aulas no modelo híbrido, há planos para iniciar também com os ensinamentos do Proerd. “Algo muito importante aos pais, seja presente na vida do seu filho, de atenção ao que ele fala e como ele se comporta, disponibilize momentos para ele tanto no estudo quanto para o lazer, e não substitua sua presença por presentes”, orienta a policial Eliane.

“Amigo pai, o avanço tecnológico facilitou acesso  das crianças a internet e as informações de forma rápida e atualizada, porém, esses avanços estão acessíveis também a vocês, existem diversos aplicativos e ferramentas importantes para que acompanhem o que os seus filhos tem acessado e até mesmo para que possam estabelecer um limite saudável, cuidar e acompanhar são formas de amar”, conclui o policial Serafim.