30-06-2011
Dois mil dos 18 mil médicos do Paraná devem largar os planos
30-06-2011
Fonte: O Estado do Parana
Apesar de aprovado em assembleia realizada na última terça-feira (28), o descredenciamento dos médicos paranaenses dos planos de saúde ainda deve demorar cerca de um mês para ser concluído. De acordo com a Associação Médica do Paraná (AMP) e o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), este seria o prazo médio previsto para que as operadoras efetuem a desincompatibilização dos profissionais.
Devido a esse período necessário para o cancelamento dos contratos, ambas as entidades ainda não sabem afirmar exatamente quantos profissionais devem pedir o descredenciamento. Informações extraoficiais apontam que pelo menos dois mil médicos devem aderir a essa decisão em todo o Paraná. O Estado conta com 18 mil profissionais cadastrados no CRM-PR.
A mobilização a favor do descredenciamento atinge algumas especialidades em especial, como Pediatria, Neurologia, Cardiologia, Endocrinologia, Urologia, Ginecologia e Pneumologia, entre outras, cujas sociedades científicas enviaram representantes à assembleia de terça-feira (28). Esses grupos serão responsáveis por passar adiante a orientação pela ruptura com os planos de saúde a seus associados.
Em dois municípios do Estado - Ivaiporã e União da Vitória -, praticamente todos os médicos já solicitaram o cancelamento de seus contratos junto às operadoras e estão atendendo apenas em consultas particulares. "Como o pedido de descredenciamento tem que ser feito individualmente, dependemos da mobilização de cada uma dessas sociedades para saber o número de médicos que vão aderir à decisão", explica o presidente da AMP, José Fernando Macedo.
A mobilização dos médicos pode atingir até mesmo as cooperativas de médicos, caso da Unimed, um dos planos de saúde mais conhecidos no Estado. "O caso das cooperativas é um pouco diferente. Será necessária a realização de uma assembleia entre os cooperados para decidir se mantêm a mesma decisão, mas antes disso, eles devem aguardar um pouco ainda para observar o que vai acontecer a partir de agora", conta Macedo.
No entanto, de acordo com o presidente do CRM-PR, Carlos Roberto Goytacaz Rocha, alguns anestesistas já teriam pedido sua saída da cooperativa. "Essa iniciativa desses especialistas pode servir de exemplo para outros, mas, como na cooperativa os médicos têm voto, ao contrário do que acontece em outras operadoras, que são empresas privadas, é mais provável que seja decidido em assembleia mesmo", opina.
Usuários
Apesar de o descredenciamento propriamente dito ainda demorar para acontecer, a decisão já preocupa os usuários de planos de saúde. De acordo com o consultor de relacionamento Rafael Oliveira, sua operadora não fez qualquer comunicado a respeito da possibilidade de alguns médicos deixarem de atender pelo plano. "Não estava sabendo disso até agora, mas espero que isso não me prejudique", avalia.
Já a educadora social Cleonice Gomes afirma que apesar de estar insatisfeita com o plano que utilizava, "infelizmente esta é a única opção", pois assim tem a garantia de que vai ser atendida sempre que precisar. Ambos os usuários são categóricos em dizer que caso seus médicos parassem de atender pelos planos de saúde, optariam por outro profissional em vez de continuar as consultas pagando-as individualmente.
No entanto, tanto a AMP quanto o CRM-PR garantem que nenhum paciente deixará de ser atendido. "Quando os contratos dos planos forem
renovados, as consultas já não farão parte deles e é provável que o preço fique mais baixo. Enquanto isso, o usuário pode pedir o reembolso dos valores gastos em consultas junto às operadores", argumenta Macedo. Rocha ainda ressalta que somente as consultas sofrerão mudanças. "Estamos falando de um descredenciamento de profissionais, não de instituições hospitalares. As cirurgias, por exemplo, ainda serão cobertas pelos planos".
Rocha ainda garante que a categoria não pretende prejudicar de forma alguma os pacientes. "Essa luta com as operadores acontece desde 1996, mas os médicos sempre cederam e continuaram a atender dessa forma por causa dos pacientes, mas chegamos em uma situação insustentável. Mesmo assim, queremos deixar bem claro que nosso movimento não é contra os pacientes, é contra os planos, que têm nos prejudicado muito". Ele ainda acredita que o descredenciamento pode até mesmo conscientizar os usuários para que não utilizem as consultas indiscriminadamente.
Reivindicações
A decisão pelo descredenciamento dos planos de saúde é consequência de uma negociação mal-sucedida entre profissionais e operadores que vem se arrastando há meses. De acordo com Macedo, as principais reivindicações da categoria, não atendidas pelas empresas, são que as operadores respeitem a resolução 71/2004 da Agência Nacional de Saúde Suplemntar (ANS), que prevê o reajuste anual para a categoria, e que paguem um valor de R$ 100 por consulta (atualmente, os médicos recebem R$ 42 por consulta realizada).
Procuradas pela reportagem de O Estado, as principais operadoras de planos de saúde do Estado não se manifestaram a respeito do assunto. Somente a empresa Nossa Saúde retornou o contato feito pela reportagem, alegando que "ainda não foi comunicada oficialmente do fato".