Na noite do último dia 09 de outubro, o Colégio Estadual Sagrada Família abriu as portas aos pais e alunos para participarem de uma aula pública sobre a Escarpa Devoniana e um debate sobre o projeto de lei que está em trâmite na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), que prevê a redução de 70% da Área de Proteção Ambiental (APA). Além de alunos e professores de diversos colégios, estiveram presentes também o deputado estadual que faz frente à oposição do projeto, Péricles de Melo, e representante dos estudantes.

Tanto Campo Largo, como Balsa Nova possuem trechos do seu território que fazem correspondência à APA debatida na Alep. Balsa Nova inclusive possui cerca de 70% do seu território dentro da Escarpa, local onde estão seus principais pontos turísticos. “Toda a região de São Luiz do Purunã será atingida pelo projeto se ele for aprovado, locais onde estão o cânion e as paisagens. Qualquer alteração naquelas paisagens influenciariam todo o turismo na região. Hoje são aproximadamente dois mil turistas que visitam o local ao mês. Com as mudanças, a procura diminuiria, causando impacto na cidade”, é o que conta Willian da Silveira, diretor de Turismo de Balsa Nova.

A Escarpa Devoniada é formada por paredes e estruturas rochosas, que fazem a separação entre o primeiro e o segundo planalto paranaense e possui uma extensão de 260 quilômetros, abrangendo o Rio Iguaçu até o Rio Itararé, no estado de São Paulo. Existe todo um ecossistema formado por plantas e animais, inclusive alguns já em extinção, que podem ser impactados com as mudanças na área.

O professor e sociólogo Eduardo Ramos conta que a ideia desse debate surgiu há alguns meses com um projeto apresentado na assembleia, na tentativa de colocar um contraponto. “Houve uma requisição de audiência pública na Câmara dos Vereadores de Balsa Nova, mas como não tivemos resposta, organizamos um espaço, neutro, e a Irmã Lucia decidiu abrir o salão do Colégio para a discussão do assunto. O conteúdo foi trabalhado com os alunos, principalmente em Geografia.”

A aula foi ministrada pelo professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e deputado estadual Péricles de Melo. Segundo ele, o clima na Alep está melhor agora para quem é contrário a este projeto, pois um dos deputados retirou a assinatura de apoio. “Eles recuaram, em função da opinião pública se manifestar contrária, mas mesmo assim a base do governo ainda é muito forte na Assembleia. Estamos buscando montar comitês contrários ao projeto nos 12 municípios que possuem alguma parte na Escarpa e estamos propondo alternativas de desenvolvimento para a área dos Campos Gerais e da Escarpa, a fim de fomentar o turismo sustentável, que combina o turismo e a produção, o plano de manejo e zoneamento ecológico econômico e recupera a identidade mais profunda, que engloba as belezas naturais, fazendas históricas, caminho das tropas e melhor utilização da infraestrutura das concessionárias que administram as rodovias. A intenção é fazer com que a região seja conhecida internacionalmente e atraia cada vez mais turistas.”

Paulo Roberto Castella, representante do movimento Pró-Escarpa Curitiba e engenheiro agrônomo explica que essa área é destinada a promoção de um desenvolvimento ecológico e social sustentável, com as boas práticas da agricultura, com baixa poluição industrial. “É possível desenvolver a atividade de agricultura, industrial e humana realizando uma gestão que não degrada o meio ambiente. Com a aprovação deste projeto, outras áreas protegidas no Paraná poderão estar ameaçadas.”

ICMS Ecológico

Com a aprovação do projeto de lei, Campo Largo e Balsa Nova poderiam perder pela metade o valor repassado aos municípios que integram hoje a APA. Esse dinheiro pode ser empregado de várias formas no município e representaria uma grande perca. Em 2016, Balsa Nova recebeu R$ 1.334.487,41 e Campo Largo R$ 159.499,43.

Comitê Pró-Escarpa

Ao final da aula pública, além dos questionamentos da população presente, ficou encaminhada a construção de um comitê Pró-Escarpa, que engloba Campo Largo e Balsa Nova, que irá iniciar os cuidados tanto nas áreas de conservação permanente, como áreas para uso sustentável. Também serão solicitadas audiências públicas, que trarão os dois lados, tanto os defensores da Escarpa, como os defensores do projeto de lei. Esses debates acontecerão em ambas as cidades.

Além disso, os estudantes reivindicaram mais aulas em contato com a natureza, para que possam compreender melhor os conteúdos e conhecer os lugares estudados.

Compuseram a mesa de discussão a Irmã Lucia Staron, diretora do Cesf; Walter Kucarz, presidente da APMF do Cesf; Kelwin Vaz da Silva Jr., presidente do Grêmio do Cesf; Welington Tiago, presidente da União Campo-larguense dos Estudantes Secundaristas; Eduardo Ramos, professor; e Péricles de Melo, deputado estadual